PAULO PIRES, “TIMOR – LABIRINTO DA DESCOLONIZAÇÃO”
A COCC TD2012 felicita PAULO PIRES pelo seu novo livro “TIMOR, LABIRINTO DA DESCOLONIZAÇÃO”
Fazemo-nos eco do convite para o lançamento de mais um livro de um timorense e uma referência para a nossa HISTÓRIA – TIMOR-LESTE/LOROSA’E
Agradecemos ao Autor o privilégio de nos permitir a publicação da “Página de Abertura” de “Timor – Labirinto da Descolonização”
Monumento à Independência, foto AlbAraújo, 20mai2012
Foto AlbAraújo, 2000
“Uma palavra de abertura
Depois de 26 anos de ausência, refugiado em Portugal, desde Julho de 1976, regressei a Timor em 2002 para oferecer o meu melhor com o objectivo de poder também participar na reconstrução do meu País, sepultado sob os escombros da destruição militar indonésia, ao longo de décadas.
Os olhares furtivos dos jovens e de gente de meia idade que me miravam nas ruas da cidade pareciam dizer ou querer de mim algo mais do que a minha presença física em Dili e no interior da Ilha.
Reconheceram-me, apesar do longo tempo de separação. São órfãos de pais, simpatizantes, militantes e dirigentes mortos da UDT e pretendiam conhecer a sua história. Quando ainda crianças, presenciaram cenas de crueldade contra os seus entes queridos: perderam os seus pais, os seus irmãos e outros familiares. Deviam-se ter interrogado, ao longo da sua meninice e da sua juventude: Porquê? Como foi possível, se eles viviam em paz com os seus e em idílio com tanta beleza da natureza verdejante circundante? Afinal, de um momento para o outro, sem se saber porquê, deu-se a hecatombe!
Os fretilinos tinham-lhes enchido os ouvidos de que o responsável por essa hecatombe foi a UDT: primeiro, deu o golpe de 11 de Agosto de 75, segundo, proclamou a integração de Timor na República unitária da Indonésia. E a Fretilin foi a única força nacionalista no terreno a lutar heroicamente contra os militares indonésios, pela independência: INDEPENDÊNCIA ou MORTE!
Os jovens da UDT queriam saber mais sobre a verdade histórica daquele conturbado período de 74-75. Queriam conhecer a história da UDT durante esse tempo. Conhecendo a minha história pessoal, como observador atento ao evoluir dos acontecimentos durante essa época labiríntica da descolonização de Timor, 74-75, e também como interveniente directo nele, suplicaram-me, em nome dos seus que morreram por Timor, que deixasse algo escrito sobre esse passado. Foi um desafio que não estava nos meus planos quando regressei a Timor. Para além de não ser historiador –a História não é a minha área de formação académica – o meu testemunho seria tão subjectivo e relativo como outro qualquer testemunho.
Mas, reconhecendo que eu, dispondo de documentos oficiais e dos ainda “classificados” sobre esse período, podia coligi-lo num trabalho de natureza basicamente documental, cronológica e objectiva. O apoio do antigo Secretário Geral do partido, Domingos de Oliveira, foi também decisivo. Mandou-me uma sentida mensagem, dirigida a todos os udeteistas, a qual me deixou sem palavras para contestar. Ei-la “Curvando-nos respeitosamente pela memória dos nossos companheiros de luta que deram a sua vida ou foram mortos nas masmorras, nas valas comuns, nos vales ou nas montanhas do nosso Timor, vamos escrever a nossa História e dizer serenamente a verdade! Saudações udeteistas” (2 de Novembro de 2009). Que “verdade”? Histórica? Eis a questão. Mas não disse que não. E a partir daí decidi colocar mãos à obra. Viajei pelo mundo subterrâneo da política para tentar descobrir algo sobre essa “verdade histórica” e transmiti-la depois aos que estão ávidos da história ainda desconhecida da descolonização de Timor e da responsabilidade dos seus intervenientes: a Potência Colonizadora e os Partidos Timorenses, por ordem alfabética: APODETI, ASDT e UDT. Encontrei parte dessa “verdade histórica” a qual ponho à disposição de todos quantos a queiram conhecer.
Este trabalho basicamente documental, não pretende ser uma obra de rebuscado estilo literário ou de reflexões histórico-filosóficas. Atendendo aos seus destinatários constituídos, na sua maioria, por jovens timorenses que não dominam a língua de Camões e de Pessoa e outros mais velhos que deixaram de se familiarizar com ela, durante mais de 25 anos do domínio do bahasa indonésio (língua indonésia), esta obra vai ser escrita num português simples, com algumas expressões mais pitorescas, em tétum, proporcionando, assim a todos eles uma leitura fácil e compreensível.”
Mercado Municipal de Dili, Foto AlbAraújo, 2000
Cerâmica da Diocese de Dili, um dos esconderijos do Xanana,
A História lusotimorense começou aqui. Foto AlbAraújo